terça-feira, 3 de junho de 2008

Mitologia 19: Apollon


Uma das divindades mais complexas da mitologia grega, Apollon (forma latina Apollo), possui tantos aspectos diferentes, que há um consenso de que seu culto surgiu a partir da progressiva fusão de muitas divindades mais antigas.

É importante salientar que sua imagem de Deus-Sol é um conceito muito tardio que só se impôs a partir da época greco-romana. Na sua qualidade “solar” será chamado de Phoibos, “o brilhante”. O "autêntico" Apollon era um deus médico, responsável tanto pela cura como pelas doenças, um temido arqueiro divino, um deus dos pastores, e um fantástico músico. Entre os diversos animais consagrados estavam o cisne, o corvo, o carneiro, o javali, a serpente, o rato, o abutre, o falcão e a cigarra. Suas árvores sagradas eram o loureiro, a palmeira e o choupo branco.

Sua mãe era a deusa Leto, filha dos titãs Koios e Phoibe. Amada por Zeus, estava grávida de gêmeos, mas Hera, ciumenta, ordenou que nenhuma terra a recebesse. Leto vagou pelo mundo, perseguida por um terrível monstro, a serpente Python. Chegou então à ilha flutuante de Delos, que por não estar ligada à Terra, serviu de pousada. Leto, com grande esforço, deu a luz a Artemis primeiro, e sua própria filha já lhe serviu de parteira, ajudando-a no nascimento de Apollon. Após isso, Delos transformou-se numa ilha comum. O termo Python, mais tarde, foi usado pelos zoólogos para designar um gênero de cobra de grande porte.

Zeus presenteou seu filho com uma carruagem puxada por cisnes e um arco divino de prata. De posse deste arco, Apollon se vingou do monstro Python e matou-o em Delfos, passando a ser o dono do oráculo local. Depois, ele e sua irmã mataram o gigante Tityos, que havia tentado violentar sua mãe. Seu corpo gigantesco, que media trezentos metros, jaz agora no Tártaro, onde dois abutres roem-lhe eternamente o fígado.

A Apollon não era atribuída nenhuma esposa principal, mas de seus amores com ninfas e humanas nasceram muitos semideuses. Amou Koronis "gralha", uma filha do rei dos lápitas (povos bárbaros do norte da Grécia). Enfurecido por esta tê-lo traído com um mortal, matou-a, salvando entretanto seu filho, retirado do ventre materno. Este filho foi Asklepios,que tornou-se um grande médico tão poderoso que chegou inclusive a ressuscitar os mortos. Hades, preocupado com a perda de seus súditos, queixou-se a Zeus, que então teria fulminado Asklepios. Apollon teria se vingado matando os Kyklopes.

Outro filho seu foi Orpheus, nascido de seus amores com a musa Kleio, embora as versões mais aceitas o façam filho do deus-rio Oiagros. A música de Orpheus era tão magicamente maravilhosa, que fazia os animais e até as pedras dançarem. Outro filho de Apollon foi Aristaios, uma divindade pastoral secundária, patrono da apicultura. Sua mãe era a ninfa guerreira Kyrene, filha do Rio Peneios.

O culto de Apollon difundiu-se entre os etruscos, que o chamaram de Aplu, e graças a eles o culto chegou a Roma, onde seu nome passou a ser Apollo (genitivo Apollinis, donde o adjetivo "apolíneo").
Os traços de deus-arqueiro vingador, associação com medicina e pestilência, residência no extremo norte, encontram uma correspondência quase exata no indiano Rudra, divindade citada nos Vedas, que servirá como uma espécie de "protótipo" da poderosa divindade Shiva.

Arte: Fred Carvalho (1999)

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